jeudi 20 décembre 2007

A vida dos homens

Já disse muita vezes que desconfiei sistematicamente de quase todas as informações que me deram. Desconfiei de minha mãe, quando ela me contou sua experiência sobre o mundo. Desconfiei que o mundo pudesse ser tão feio, escroto e mesquinho como dizia. Pensava sempre comigo: Não pode ser, não pode ser, não pode ser. Não me lembro que justificativa me pude apresentar para ser tão otimista, mas o fato é que tenho acreditado em cada um dos idiotas seres humanos que se aproximaram de mim nos últimos anos.

O maior choque que tomei até agora foi perceber que dentre aqueles que mais amamos, porque são sangue do nosso sangue, figuram caráteres deploráveis por razões tão diversas como a prática da trapaça ou da cobiça, por exemplo. Isso foi triste. Conviver nem tanto. Posso me lembrar do dia em que percebi isso. É de certa forma loucura minha sair fuçando as intimidades dos outros para encontrar neles defeitos imperdoáveis, esse é quiça o meu defeito incontornável.

O fato é que quando encontro, aquilo passa a fazer parte do primeiro plano. De resto, nada mais interessa. Transformo o oposto do defeito encontrado, na qualidade mais apreciada por mim. Ela passa a reger todas as minhas práticas, todos os meus interesses, toda a minha fonte de felicidade. E o que era antes gente, vira um bicho execrável, representação de toda sorte de podridão humana, de toda desgraça.

Essa prática está me fazendo percorrer o mesmo caminho de minha mãe. Não tenho filhas, porque se tivesse, em sua adolescência seria provável que repetisse tudo o que ouvi de minha mãe. Que é preciso ter cuidado com as pessoas, que cada uma delas guarda interesses excusos e que costumam agir de má fé. Minha energia para combater essa visão do mundo de minha mãe está minando. Resta algo de alegria em mim. De esperança, de beleza. Tenho amigos adoráveis, pessoas de bom coração, em quem acredito sem pestanejar.

Meu filho é homem. Coitado, eu diria. Quanta responsabilidade carrega só porque nasceu homem. A vida dele é de cão, e se consigo formá-lo bem, tenho que dotá-lo de personalidade forte, plástica e de uma ética que deve se adaptar às situações que enfrentará ou a seus objetivos pessoais. Se ele não for assim, o coitado, se ele não viver a sua vida de cão inconsciente de seu papel neste mundo, será raro que guarde, pelo menos como eu, esse pouco de alegria, esse quase esperar, essa faísca que pode acender um dia.

Se não guardar não será um idiota, mas será tão infeliz que talvez não possa viver sua própria vida. A consciência é a maior tragédia que pode cair sobre um ser humano. A felicidade está na cegueira, na ilusão, no encantamento. Queria acreditar em Deus para rezar todos os dias pela minha alma e pela alma do meu filho. Eu não sei dizer neste momento em que grau se encontra minha depressão.

2 commentaires:

Anonyme a dit…
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marina de botas a dit…

cara Elis, parece que grande parte das mães de muitas pessoas legais, ou simplesmente da nossa geração( essas que viveram todas as transformações do feminismo e da liberdade sexual)ficaram muito assustadas com a vida, e pobre de nós, sobrou pra gente tentar refazer, na verdade reinventar, todo o caminho, todo o contexto e tudo em nós mesmos. Masde uns tempos pra cá eu venho conseguindo desfazer esse medo medonho do mundo, eu acho que todo mundo se sente muito ferido e precisa de carinho, precisa confiar e é possível perceber aos poucos, se doar aos poucos. Mas também é preciso saber ficar só quando necessário. E isso é difícil.

Não vamos deixar a tristeza-loucura das nossas mães tomar conta do mundo. Acho que Raul, Emiliano e Iara vão poder confiar e gostar de fato uns dos outros. Assim terá valido a pena nosso árduo trabalho.

beijos saudades e afins MARINA