lundi 14 juin 2010

Que música bonita escuto agora
É tão imensa que não me permite ser
Me invade e me desconcerta
Me tira da rota dos pensamentos vãos

Não parece bem contigo
Gosto amargo, peso mórbido
Que carrego junto a mim
Não sei por que te quero

Ainda é o vazio o oco
aquele buraco seco
esquecido e maldito
Jamais preenchido

Ela agora tem ritmo intenso
Sobe e desce, intensifica
Passeia alegre, suspende a emoção
Que bela música preenche meus sentidos

Deve ser a falta o que me irrita
O descompromisso, o riso
Parece somente aparência
Coisa asquerosa ausente

Em suas entranhas, mas...
de que entranhas estou eu a falar?
Entranhas é ser, neste não há
Lhe falta o âmago o dar

Agora parece uma valsa
Convida a dançar, é ligeira
Frenética e precisa, só me espanta
De tão pleno sentido me desperta

Não sou fortaleza
Ente poroso penetrável
Me misturo e absorvo
O frio sem vida desgraça

De Fernando Pessoa, em Cancioneiro [75]

Para onde vai a minha vida, e quem a leva?
Por que faço eu sempre o que não queria?
Que destino contínuo se passa em mim na treva?
Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?

O meu destino tem um sentido e tem um jeito,
A minha vida segue uma rota e uma escala,
Mas o consciente de mim é o esboço imperfeito
Daquilo que faço e que sou; não me iguala.

Não me compreendo nem no que, compreendendo, faço.
Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim.
É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço.
Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.

Quem sou, senhor, na tua treva e no teu fumo?
Além da minha alma, que outra alma há na minha?
Porque me destes o sentimento de um rumo,
Se o rumo que busco não busco, se em mim nada caminha

Senão com um uso não meu dos meus passos, senão
Com um destino escondido de mim nos meus atos?
Para que sou consciente se a consciência é uma ilusão?
Que sou eu entre o quê e os fatos?

Fechai-me os olhos, toldai-me a vista da alma!
Ó ilusões! se eu nada sei de mim e da vida,
Ao menos goze esse nada, sem fé, mas com calma,
Ao menos durma viver, como uma praia esquecida...

jeudi 3 juin 2010

Quoi de nouveau?

Rien n'a changé depuis ton absence.
Les meubles, la vaisselle, les draps.
Le temps ne change pas d'avis.
Tout continue autour de moi.
Les rythmes, les bruits, le vent.

Rien n'a changé après ton arrivée.
Les chagrins, les doutes, la joie.
Les corps sont trop fatigués.
Quelques devoirs à accomplir.
Les repas, le bain, le repos.

Rien n'a changé depuis nos disputes.
L'orgueil, les sentiments, les pensées.
Les caractères n'ont pas évolué.
Presque les mêmes modes de vie.
Le travail, la maison, les amis.

Rien n'a changé après la paix.
Les visages, les habits, l'ambiance.
La maison ne se déguise pas.
Aucune pièce a été remodelée.
Le cœur, le ventre et l'esprit.